Entrevista: Mário Sarraipa, diretor da Escola Telêmaco, relaciona sustentabilidade e currículo educacional na proposta do Olhos no Futuro

Entrevista: Mário Sarraipa, diretor da Escola Telêmaco, relaciona sustentabilidade e currículo educacional na proposta do Olhos no Futuro

Localizada na Vila San Martin, bairro da Região Norte de Campinas (SP), a Escola Estadual Dr. Telêmaco Paioli Melges (EETPM) atende nos períodos da manhã, tarde e noite.  Mário Ferreira Sarraipa, diretor institucional, é quem conta brevemente sobre como essa unidade educacional tem se organizado frente às questões ambientais. Ele rememora o início do diálogo com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por meio do Olhos no Futuro, subprojeto do Campus Sustentável — Unicamp (ver no capítulo 16 do livro Campus Sustentável: um modelo em inovação energética para a América Latina e o Caribe). Segundo o diretor,  a sustentabilidade já fazia parte do currículo educacional e as iniciativas desse subprojeto potencializam o processo de formação dos(as) estudantes, seja da EETPM, seja da Unicamp. Saiba mais detalhes dessa história, leia a seguir a conversa com Sarraipa. 

1. Conta um pouco da origem do diálogo da Escola Estadual Dr. Telêmaco Paioli Melges (EETPM) com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mais especificamente com o Campus Sustentável — Unicamp?

A história do projeto Campus Sustentável na Escola Telêmaco antecede a minha gestão. A primeira interlocução ocorreu por meio da Cíntia, ex-coordenadora pedagógica. Ela que teve esse contato com a Unicamp. Foi com ela que o diálogo iniciou entre a Escola Telêmaco e o projeto Campus sustentável — Unicamp, acredito que em 2019.

2. A Escola já havia participado de algum projeto como essa proposta do Campus sustentável — Unicamp?

Não tivemos outros projetos vinculados à história do Campus Sustentável e a Escola Telêmaco. Mas a escola tem um histórico de trabalhar essa questão de reciclagem, cuidando do meio ambiente. Há uma atuação muito forte dos professores, já tivemos uma horta constituída e alguns eventos. Exemplo é o trabalho da Carolina, professora de sociologia, abordando reciclagem e as cooperativas de reciclagem.

3. Alguma dessas iniciativas era resultado de parceria, por exemplo, com outras universidades?

Que eu me lembre não! Isso era mais iniciativa dos professores daqui. Grande parte dos nossos professores são ex-alunos da Unicamp. Então esses sempre estiveram envolvidos com a Unicamp. A sustentabilidade faz parte do Currículo Educacional. Então, isso está no currículo, tanto do fundamental quanto do médio. Mas nunca nós desenvolvemos um projeto com essa disciplinaridade que está sendo proposta agora pelo Campus Sustentável.

4. Quais possíveis impactos dessa parceria no papel social da Escola Telêmaco?

Esse projeto do Campus Sustentável, apesar de estarmos no segundo ano, ele ainda está em desenvolvimento. Então, o impacto relacionado a esse projeto ainda não chegou aos estudantes. Estamos na fase de interlocução entre professores e estudantes da Unicamp. A aplicação das oficinas vai acontecer agora nesses próximos meses, atendendo o cronograma desenvolvido pela Danúsia Arantes, coordenadora do Olhos no Futuro. Acredito que tudo que venha trabalhar sustentabilidade é mostrar para nossa comunidade que ela pode ter uma economia com a questão de sustentabilidade, tanto econômica financeira como ligada aos gastos desnecessários, ações que possam gerar benefícios para ela, por exemplo, de energia e plantio dos seus próprios alimentos.

A nossa comunidade aqui no entorno é bastante carente. Temos algumas comunidades ao lado da Escola, como a Vila Paula, Vale do Sol, por exemplo. São algumas ocupações que aconteceram há alguns anos, mas elas já estão estabelecidas, estão lutando por reconhecimento das suas áreas. Trata-se de comunidades que possuem ótima vontade e veem a Escola como um ponto de apoio, uma das principais possibilidades de acessão(sic.) para as crianças que estão aqui. O local onde essas crianças podem ter contato com especialistas de áreas diversas. 

Esses especialistas, muitas vezes, incentivam essa criançada, a vontade de fazer uma pesquisa, de estudar, entendendo o processo que está acontecendo na nossa sociedade. Onde o consumo é muito exorbitante, nós vemos isso pelas mídias. Trazendo um projeto como esse da Unicamp com pesquisadores de ponta dentro das suas diversas áreas, acredito que isso vai ser um benefício muito grande para o estudante poder ter o contato com pessoas que estão pesquisando e informações que podem ajudar essa comunidade.
Em contrapartida, a Escola também ajuda a Unicamp. Porque a possibilidade deles [estudantes da escola] fazerem essa vivência prática para os estudantes da Unicamp acredito que isso também é de suma importância, porque a teoria simplesmente pela teoria sem haver a aplicação, não mostra a realidade do que eles estão desenvolvendo. Essa parceria é mútua, tanto para nós professores aqui da Escola que estamos participando desse processo, quanto para nossos estudantes, para nossa comunidade na totalidade, mas também para os estudantes da Unicamp, que serão os futuros profissionais que estão participando ativamente do desenvolvimento da elaboração desse material e sua aplicação nos próximos meses.

5. Qual é a oferta de educação para as comunidades?

As crianças quando passam para o sexto ano, vêm aqui para a Escola Telêmaco. Elas ficam do sexto até o terceiro ano do ensino médio. Esta é uma oferta de estudo. A partir do próximo ano, a nossa Escola se tornará de ensino integral, onde estudantes do sexto até nono ano permanecerão das 7 às 16 horas, com um projeto pedagógico diferenciado e o ensino médio vai ser atendido no período noturno.

6. Desculpa, eu não entendi se você disse dois turnos ou noturno…

Então, atualmente nós temos ensino médio no período da manhã e no período noturno. A partir do ano que vem [2022], com a experimentação da escola integral, o ensino médio passará a ser exclusivamente no período noturno. Devido à quantidade de salas e estudantes atendidos, o ensino médio teve que exclusivamente migrar para o noturno. Passando-se a ter esse ensino integral. Eu acredito que a aplicação do projeto como é a Unicamp, acredito que o ano que vem [2022] funcionaria muito melhor do que neste ano.

7. E como é o trabalho da Escola Telêmaco e a Unicamp, mas especificamente com o Campus Sustentável? De que modo a escola vem se relacionar mais pragmaticamente com a iniciativa?

À Escola, desde quando contatada pela primeira vez pela Unicamp, foi apresentada a essa proposta de desenvolver esse trabalho com várias temáticas, com os ODS e dentro deles, especificamente essa questão da sustentabilidade. Daí então, os projetos foram agregando novos estudantes e professores da Unicamp e isso foi apresentado ao corpo docente [da Telêmaco] para poder casar os subprojetos com o currículo, a ponto de a gente não interferir no currículo escolar e as atividades do Campus Sustentável estarem adequadas a disciplinas e ao conteúdo trabalhado com aquela série e ano.

8. Como a escola enxerga nessa relação entre políticas públicas e extensionistas, o empenho das instituições técnicas e científicas, em manter e propor essas ideias nesses trabalhos nas escolas? Como a extensão pode funcionar como uma política pública de acesso ao conhecimento?

Vejo que essa questão de a extensão estar chegando nessas comunidades, nos estudantes da rede pública, é de suma importância. É algo que eu até dizia, se cada laboratório desse da Universidade adotasse uma escola pública de Campinas ajudaria muito essas escolas. Então, acredito que nesse trabalho de extensão, todos os laboratórios e departamentos da Universidade deveriam criar essa parceria chegando até as escolas. Digo com propriedade de causa, participo do grupo de diretores da nossa diretoria, não vou dizer 100%, mas acredito que 90% deles estariam abertos a receber os projetos da Unicamp.

Inácio de Paula | entrevista
Giovana Sanches | ilustração