No setor energético, o Sol é a luz no fim do túnel

No setor energético, o Sol é a luz no fim do túnel

Sistema fotovoltaico converte radiação solar em energia elétrica e até 2050 deve ser predominante nas matrizes energéticas

Em 2018 o Brasil aumentou em quase 100% o uso da energia solar fotovoltaica na matriz energética com relação a 2017. Entre 2018 e 2019, o rendimento foi de 92,1% e a redução de 23,8% da geração de derivados de petróleo, segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEM/EPE).

“Os sistemas fotovoltaicos produzem energia elétrica a partir da luz solar, que é abundante, limpa e gratuita. Ao substituírem o uso de combustíveis fósseis, reduzem a emissão de gases poluentes para a atmosfera”, explica Marcelo Villalva, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec/Unicamp). O pesquisador defende que o setor energético brasileiro aposte em estratégias e políticas públicas para a fonte solar, porém, destaca que o Brasil anda na contramão do mundo e, tem ampliado o uso da geração termelétrica em vez do incentivo à fonte solar.

Segundo o Anuário Estatístico de Energia Elétrica – 2020, as emissões de gases de efeito estufa provenientes da geração elétrica brasileira totalizaram 56,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), em 2019, ou seja, quase 7% a mais que em 2018. Os dados se referem aos anos de 2015 a 2019 e o relatório foi elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com o Ministério de Minas e Energia. A escassez dos recursos naturais nas reservas de combustíveis fósseis e o aumento do consumo são fatores que também preocupam o mercado da eletricidade. 

De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar (ABSolar), desde 2012, a fonte solar fotovoltaica gerou mais de 210 mil novos empregos no território brasileiro, ultrapassando o valor de R$ 10,4 bilhões em arrecadação de tributos e R$ 35,4 bilhões que foram injetados em novos investimentos privados. Além disso, evitou que mais de 1,1 milhão de toneladas de CO2 fossem emitidas à atmosfera.

De 2018 a 2019, o Brasil apresentou ampliação em 4,5% da capacidade instalada de geração de eletricidade, somados os sistemas interligados e isolados. A maior expansão proporcional ocorre na geração solar, fechando o último ano com um acréscimo na potência instalada de 37,6% em relação ao ano anterior. Para o professor, esse crescimento deriva da redução dos custos dos equipamentos e pelos consecutivos aumentos das tarifas de energia elétrica.

Sustentabilidade

“As células fotovoltaicas são fabricadas de silício cristalino, que é um material inorgânico”, pontua Villalva. Segundo ele, utilizam-se predominantemente módulos fotovoltaicos com células de silício cristalino.

Existem também, em comercialização incipiente, as células fotovoltaicas orgânicas, baseadas nos chamados “materiais semicondutores orgânicos”, que incluem um grupo de plásticos capazes de conduzir a eletricidade. As vantagens dessas células orgânicas são o baixo custo, a facilidade de produção em grande volume e o fato de serem flexíveis e coloridas. Entretanto, são menos eficientes do que as células solares de silício e apresentam problemas de estabilidade, degradando-se com a exposição à radiação solar.

Usualmente as placas fotovoltaicas são instaladas nos telhados, e já há testes em forma de plataformas flutuantes. As placas são acondicionadas em duas bases (flutuador principal e secundário), e são instaladas em lagos de hidrelétricas. Atualmente a Sonlution, junto com a Chesf e a Universidade Federal de Pernambuco testam um desses projetos em Sobradinho, na Bahia.

Tendência global

Segundo a Agência Internacional de Energia Fotovoltaica (IEA, sigla em inglês), o mercado fotovoltaico global lidera a transição das energias renováveis ​​em termos de capacidade adicionada, representando uma inserção fotovoltaica de 3,3%.  É o que aponta o Relatório em Tendências de Aplicações Fotovoltaicas (PVPS- IEA, sigla em inglês).

Mesmo com o histórico positivo nos últimos anos, os números ainda não são suficientes para que seja atingida a meta mundial do Acordo do Clima de Paris, por exemplo.

Ricardo Baitelo, técnico-regulatório da ABSolar, destaca que é importante que a energia fotovoltaica ocupe um lugar cada vez maior na matriz energética mundial, principalmente na brasileira – que sempre foi dominada pela fonte hídrica.

“O que já se falava há aproximadamente 10 anos vem se concretizando pelas projeções e pelo desempenho da fonte solar nos últimos anos. Diziam que seria a fonte mais barata, e ela já é mais barata do que inúmeras outras, tendo desempenho excepcional nos leilões de 2019. Para geração distribuída também apresenta potencial de economia nas tarifas de energia”, aponta Baitelo.

Na edição 2020, o IEA-PVPS destaca China, Estados Unidos e Japão como responsáveis pelas maiores capacidades instaladas e acumuladas de energia fotovoltaica.

Informações publicadas no relatório da BloombergNEF (BNEF) que faz projeções globais para 2050 sinalizam o protagonismo da fonte solar fotovoltaica como a maior capacidade instalada, inclusive, à frente da hídrica.

Fonte: dossiê 223 – Novas energias da Revista ComCiência