“Universidade em direção à sustentabilidade”, diz pesquisador que coordena o projeto ônibus elétrico

“Universidade em direção à sustentabilidade”, diz pesquisador que coordena o projeto ônibus elétrico

Pesquisas e projetos demandam investimentos: financeiro, tempo e relações multidisciplinares

Madson Cortes, professor do Departamento de Sistemas e Energia (DSE) da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da UNICAMP, falou com a gente quando o ônibus elétrico se encontrava ainda em fase de teste e aguardava adesivagem para circular dentro do campus de Barão Geraldo em Campinas.

Atualmente, o transporte se encontra disponível para os usuários e começou a circular na primeira semana de setembro de 2020. Antes disso, e sem acesso ao público, foram realizados testes de rodagem e monitoramento. Por um período de até dois meses, segundo o professor, essa circulação será apenas durante o dia. Em seguida, de acordo com os resultados dos estudos, a expectativa é que o ônibus funcione também nas rotas noturnas.

O ônibus será usado exclusivamente dentro do campus Barão Geraldo e a seguir você confere o resultado da entrevista com o coordenador do projeto Laboratório Vivo de Mobilidade Elétrica para Transporte Coletivo na Unicamp: Integração de Eletroposto Sustentável, Monitoramento Amplo e Conectividade em Tempo Real, Madson Cortes.

Campus Sustentável: Quais parcerias contribuíram para a idealização desse projeto?

Pesquisador: O projeto teve início em outubro de 2018 e tem duração prevista de três anos. Ele é financiado pela CPFL com recursos do programa de P&D da ANEEL. Já realizamos todos os estudos teóricos. Estamos finalizando as etapas da implantação da infraestrutura. Entramos nas etapas de coleta de dados em campo e desenvolvimento de métodos e soluções a partir desses dados.

Campus Sustentável: Há acessibilidade de mobilidade na estrutura desse ônibus?

Pesquisador: Sim. Na porta central do ônibus há uma rampa de acesso para cadeirantes e local específico para ancoragem de cadeira de rodas. Além disso, o ônibus tem a carroceria com piso baixo, o que facilita o acesso de pessoas com dificuldade de locomoção.

Campus Sustentável: Quantos pesquisadores, incluindo você e estudantes, estiveram envolvidos de modo direto e efetivamente nesse projeto?

Pesquisador: Hoje somos cinco professores, um pós-doutorado, cinco doutorandos, quatro mestrandos e dois alunos de IC trabalhando diretamente na execução do projeto. Este é o grupo que mais atua hoje. Há ainda muitos alunos que trabalharam no projeto e já concluíram as suas atividades. Temos também cerca de 10 professores de diversas áreas colaborando como consultores em temas específicos. Isso é fundamental devido à multidisciplinariedade do Projeto. Além disso, temos uma quantidade enorme de funcionários da Unicamp que contribuíram e contribuem para o projeto.

Campus Sustentável: Quanto tempo leva para carregar a bateria do ônibus elétrico e qual o período de durabilidade até uma próxima recarga?

Pesquisador: O nosso ônibus pode ser recarregado completamente em cerca de 4 horas. Dependendo das condições de uso esta carga permite rodar de 200 a 250 km. Aspectos como o modo de direção, a quantidade de usuários, o número de paradas, o uso do ar-condicionado, o relevo, etc. influem na autonomia. Mas temos condições de realizar recargas rápidas adicionais ao longo do dia para aumentar a autonomia. A gestão das recargas e do uso podem contribuir [sic] bastante para viabilizar e acelerar a adoção dos ônibus elétricos.

Campus Sustentável: Na descrição do Projeto o senhor fala de eletropostos. Como isso funciona?

Pesquisador: O eletroposto é a infraestrutura que permite que o ônibus se conecte a rede elétrica para recarregar a bateria. No nosso caso chamamos o eletroposto de Energia Zero, pois toda a energia requerida pelo ônibus pode ser gerada pela planta fotovoltaica de 337 kWp instalada no telhado do Ginásio. O eletroposto e a planta fotovoltaica estão na mesma rede elétrica a uma distância de poucos metros. A ideia é que ao final de cada ano toda a energia usada pelo ônibus tenha sido gerada de forma limpa pelos painéis solares da planta fotovoltaica. Como os horários da geração de energia e das recargas não coincidem, todos esses elementos precisam estar conectados à rede elétrica. Isso permite a flexibilização e gestão das recargas.

Campus Sustentável: Você sabe de outros projeto como esse no Brasil ?

Pesquisador: Estamos falando de tecnologias de ponta para a mobilidade urbana e, portanto, como esperado, há muitas iniciativas em todo o mundo. A nossa iniciativa é inovadora, pois tem como objetivo construir um laboratório vivo para mobilidade. Não estamos falando apenas de acrescentar um ônibus elétrico à frota de circulares internos da Unicamp. O eletroposto, todos os ônibus convencionais e o ônibus elétrico serão monitorados com um conjunto amplo de sensores de diversos tipos. A ideia é monitorar dados, aprender sobre a mobilidade das pessoas no campus, e desenvolver métodos e conceitos que possam ser aplicados ao transporte público das cidades, tornando a mobilidade mais eficiente e criando oportunidade para novos negócios.

Nesse momento inicial temos o foco em aspectos técnicos, econômicos e ambientais, porém, após o fim desse projeto, o laboratório vivo seguirá na Unicamp e poderemos ampliar a gama de dados monitorados para viabilizar o estudo de novos temas ligados diretamente e indiretamente à mobilidade.

Campus Sustentável: Como esse projeto impacta positivamente no funcionamento da sociedade, pensando na comunidade externa e em outras universidades?

Pesquisador: Se mover de forma rápida, confortável, segura e a custos justos é fundamental para as sociedades modernas. Nesse contexto, a nossa premissa é que todos os conhecimentos desenvolvidos possam ser testados e aprimorados no laboratório nosso vivo e, então, aplicados ao transporte público das nossas cidades beneficiando diretamente as pessoas.

Campus Sustentável: Como esse projeto se insere no Projeto Campus Sustentável?

pesquisador: A mobilidade das pessoas é um pilar básico e fundamental da sustentabilidade, portanto, os projetos estão completamente alinhados. De fato, eles foram concebidos em conjunto e pensados para ser parte dos avanços da Universidade em direção à sustentabilidade.

Pesquisador: Um aspecto fundamental deste é a formação de pessoas especializadas nos diversos temas tratados no projeto. Há estudantes atuando em temas relacionados às redes elétricas, impactos ambientais, desenvolvimento de aplicações com sensores, comunicação em tempo real, estabelecimento de rotas otimizadas para os ônibus, medições de diversas naturezas, mineração de dados, base de dados, desenvolvimento de aplicativos e muitos outros. Este é com certeza o maior e mais duradouro benefício para toda a sociedade.

 

Inácio de Paula| Campus Sustentável – texto escrito, entrevista

Giovana Sanches| Campus Sustentável – texto imagético