17.02.2022 Entrevista: Renato Povia, diretor de estratégias e inovação da CPFL, fala sobre os impactos dos investimentos aplicados na Unicamp
Esta entrevista foi realizada em abril de 2021 e faz parte da quinta seção do livro Campus Sustentável: um modelo de inovação em eficiência energética para a América Latina e o Caribe, lançado em dezembro do mesmo ano. Nela, Renato Povia, diretor de estratégias e inovação da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), destaca a longevidade da parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e os resultados oriundos dos investimentos financeiros que somam, segundo ele, pouco mais de 100 milhões de reais. Confira a seguir.
- Qual a origem do diálogo da CPFL Energia com a Unicamp na parceria de apoio ao Campus Sustentável — Unicamp?
Unicamp e CPFL possuem relacionamento de longa data. Juntos já realizamos dezenas de projetos, que somam mais de 100 milhões em investimentos. Os temas prioritários são Inovação e Eficiência Energética. Quando a ANEEL lançou a Chamada Prioritária de Eficiência Energética e Estratégica de P&D 001/2016 da ANEEL para instituições públicas de ensino superior, nós sabíamos ser uma oportunidade de avançar na parceria. A CPFL fez uma chamada de projetos em suas áreas de concessão e a proposta da Unicamp foi selecionada pela CPFL Paulista. O projeto foi apresentado na ANEEL e aprovado para execução, somando-se a outras ações que a Unicamp e CPFL já desenvolviam.
- A CPFL Energia já havia colaborado com projetos semelhantes ao do Campus Sustentável — Unicamp?
Sim, no âmbito da mesma Chamada, a CPFL desenvolveu projetos semelhantes com a Universidade Federal de Santa Maria (RS) e o Instituto Federal de São Paulo campus Boituva. Também foram desenvolvidas ações de eficiência energética, capacitação e consumo consciente de energia. Além disso, são diversos projetos desenvolvidos em parceria, como Telhados Solares, Microgrid e Emotive.
- Qual o papel da CPFL Energia no desenvolvimento do Campus Sustentável — Unicamp?
A CPFL é a empresa proponente do projeto para a ANEEL e responsável pela gestão técnica e financeira. Cabe à CPFL monitorar e fiscalizar o cumprimento das etapas do projeto, bem como a gestão das entidades executoras e parceiros envolvidos. Além disso, a empresa contribui com know-how técnico para o desenvolvimento de algumas atividades relacionadas ao sistema elétrico de potência.
- Como é o trabalho entre a CPFL Energia e a Unicamp, especificamente com o Campus Sustentável — Unicamp? Ou seja, de que modo a empresa se relaciona mais pragmaticamente com a iniciativa?
O Campus Sustentável Unicamp faz parte do Laboratório Vivo construído pela CPFL em parceria com a Unicamp no Distrito de Barão Geraldo, onde temos inciativas de geração distribuída, mobilidade elétrica e armazenamento de energia. Especificamente o Campus Sustentável simula o universo de uma mini cidade, onde é possível a CPFL monitorar o comportamento da rede elétrica inteligente e aprimorar seus procedimentos operativos e contribuir com a regulação do setor elétrico. Além disso, a capacitação de profissionais pelo projeto prepara a CPFL e a sociedade para as novas tecnologias.
- De onde vem o investimento financeiro aplicado pela CPFL Energia no Campus Sustentável — Unicamp?
Vem dos Programas de Eficiência Energética (PEE Aneel) e Inovação (P&D Aneel).
- Quais são os benefícios que a CPFL tem ao se relacionar com esse tipo de políticas públicas?
A Lei n.º 9.991 de 24/07/2020 dispõe sobre realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, e dá outras providências. Define que 1%, somando P&D e PE do faturamento das empresas concessionárias de serviços públicos de fornecimento de eletricidade sejam investidos metade em eficiência energética (0,5%) e o outros 0,5% em inovação. A ANEEL regulamenta essa lei definindo como esses projetos podem ser feitos, ou seja, como esse recurso pode ser aplicado. Nós temos o manual de inovação, P&D e PEE, para que os agentes, cada uma das empresas do setor elétrico possa fazer esse investimento, mas esse é um recurso que fica de posse da CPFL para fazer o melhor investimento possível, a melhor alocação possível desse recurso. Então com base nas regras definidas pela ANEEL, a CPFL escolhe os seus projetos, faz o seu processo de seleção e define a melhor estratégia para esse investimento. É nesse contexto todo que surge um projeto, por exemplo, como o Campus Sustentável.
- A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) está subordinada a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)?
Não é exatamente subordinada. A ANEEL é a agência que define as regras do setor [energético]. Mas a CPFL não é subordinada a ANEEL. Claro, a ANEEL regulamenta o setor na totalidade, então define as regras de funcionamento. A ANEEL que faz a concessão de serviço público. Já o grupo CPFL é detentor de algumas das concessões, por exemplo, a Distribuição da CPFL Paulista que distribuiu energia no interior do Estado de São Paulo. Então essa concessão está sujeita as regras que ANEEL define para o setor, mas não é uma subordinação direta.
- Na busca de alternativas para problemas latentes do setor elétrico brasileiro, como a CPFL Energia enxerga a relação entre políticas públicas nacionais e o empenho das instituições técnicas/científicas? Ou seja, como a empresa compreende esse funcionamento?
O setor elétrico tem um papel social importante, com grande impacto na vida de toda a população. A correta gestão desses recursos e a modernização contínua do setor são responsabilidades que a concessionária de energia compartilha com todos os agentes. Em especial, centros de excelência como a Unicamp, podem e devem contribuir para o desenvolvimento e aplicação de tecnologia nacional que possa melhorar a qualidade e confiabilidade dos serviços ligados à energia.
- Além das iniciativas apoiadas, a CPFL desenvolve algum trabalho próprio voltado para a sustentabilidade energética?
A CPFL tem compromissos públicos assumidos até o ano de 2024. Então, um deles, por exemplo, é esse ligado ao recurso do investimento em hospitais. Teste energético em hospitais. Mas tem vários outros de apoio à sociedade, de redução de emissão de carbono até a matriz mais limpa, são vários compromissos. Inclusive isso está público, disponível no nosso site.
- Ao encontro do planejamento, como a CPFL tem se organizado para distribuir da melhor forma esses recursos?
No caso do recurso de eficiência energética, dos projetos de eficiência energética, existe prioritariamente uma chamada pública de projetos, nos quais qualquer agente pode se inscrever e submeter projetos, e as regras também são definidas em grande parte pela ANEEL, mas a distribuidora também pode definir alguns temas prioritários, por exemplo, como nós temos no grupo CPFL tema de hospitais, ligado a saúde e também no Campus Sustentável, pareceria com a Unicamp, portanto, o tema de educação. Então são algumas das Bandeiras prioritárias para CPFL. No caso de P&D nos recursos de inovação, o foco está muito mais em escolher quais as tecnologias principais que podem transformar o setor e que, portanto, deveriam ser prioritárias na hora de fazer o investimento. Tudo isso que estou falando é do programa na totalidade, mas em especial para o projeto do Campus Sustentável, a ANEEL entendendo a prioridade do tema de educação e a possibilidade de aportar, usar esses recursos para beneficiar instituições de ensino, lançou a Chamada Prioritária 001 para o tema de Educação para Instituições de Ensino Federal. Então foi uma iniciativa da ANEEL de definir, dar essa prioridade para esse público para esse tipo de entidade. A CPFL organizou, identificou, desenhou e submeteu esses projetos a avaliação da ANEEL, onde os projetos foram aprovados, por exemplo, esse do Campus Sustentável da Unicamp.
- Algo mais a dizer?
Acreditamos muito nesse tipo de projeto, com ampla colaboração entre agentes públicos e privados para melhorar a vida da população. Que venham mais projetos como esse!
Inácio de Paula | entrevista
Giovana Sanches | ilustração